O que o Galo nos ensinou na derrota? - por Raiam Maia

Desde 1971 sem ganhar títulos de expressão, salvo duas Copas Comenbol, o Atlético alimentou a frustração de muitos. Na década de 2000 o time acumulou vexames, perda de status, grandes escárnios por conta de torcedores de outros times e etc. Comentaristas de futebol do eixo analisavam o Galo com a mesma profundidade que se analisa os problemas políticos do Brasil.

O Atlético sempre foi grande, é e será. No início fez grandes feitos, ganhou a Copa dos Campeões em 1937, foi a força máxima de Minas Gerais desde muito cedo. É o maior vencedor de campeonatos mineiros. Títulos pequenos nos olhos midiáticos de uma época que renega o passado. Não preciso de autopiedade para não reconhecer o jejum das décadas mais recentes, mas negar o passado do Galo é simplesmente um exercício de um olhar míope que só vê o presente como única manifestação de vida.

O bom de ser efêmero e ignorante com muitos são com o Galo, ou com qualquer time menos midiático, é que a verdade muda muito rápido. O Atlético mudou sua cara com poucos meses, já é tido como um time vencedor, que aparece em comerciais de jogos eletrônicos e está na mídia do eixo. Imagino crianças tailandesas, filipinas, chinesas, querendo jogar videogame com um tal de Atlético Mineiro porque é o time de Ronaldinho. 

(Foto: Gazeta Esportiva)
É impressionante como as coisas mudam, ir de Jales a Ronaldinho em menos de 10 anos e receber notícias de todo mundo. Queria alertar, na verdade, o fato de nunca termos sido pequenos. Diferentemente do meu pai, que estava presente quando o Galo tinha Reinaldo, Éder, Paulo Isidoro, e mil outros craques, eu vi o meu time perder duas vezes para o Cruzeiro de 5x0, vi a torcida gritar: “Ei, Vanderlei, vamos jogar”. Vi mil outras coisas absurdas, elencos anuais de mais de 50 futebolistas diferentes, jogadores sendo presos, enfim, de Márcio Robocop até Nilson Sergipano, tragédia não falta.

Mas desse período até hoje, fiz grandes amigos, vi a torcida dando baile nas arquibancadas, usei o argumento de ser atleticano por causa da nossa imensa Massa, o Atlético virou um time folclórico, romântico, que era mais que um time, um sentimento, dentro e fora do futebol.

A Derrota fez uma limpa na Massa, creio que por seleção natural, quem aguentou ser atleticano foi até o fim, e assim os fanáticos ou os que se importam ficaram. O Atlético me ensinou a ser humilde, a abordar aspectos mais profundos do futebol. Não importava o placar, estávamos ali. Havia debates, críticas, com torcedores de outros times mesmo sem argumento. E sempre fomos uma grande família. O Atlético me obrigou, nos tempos sombrios a lapidar o melhor de mim, a amar incondicionalmente, e nunca esperar o melhor. Uma obra de paciência e que requisitou grandes esforços. Por mais que fosse ruim perder, a família atleticana sempre fez a vida fazer sentido. Nós somos pessoas sob o mesmo pano, a simplicidade da camisa da Tam de 95, ou da Tenda de 97, me faz lembrar como era bom ser um pequeno atleticano. Mesmo que em 1996 perdemos o brasileirão para a Portuguesa, ou em 1999 contra o Corinthians.

Eu tenho um conselho, um pedido: que a arrogância nunca faça morada no escudo alvinegro. Que se os títulos forem conquistados não se perca a maravilha de ser atleticano, de ser um torcedor de buteco, da nossa simplicidade, dos nossos retalhos sociais, tão bem articulados no simples compartilhar de uma cerveja. Não temos limitação de classe social e nem de cor, espero que continuemos com os pés no chão. Que a mente voe, conquiste o céu, que sejamos capazes de chorar só de pensar em ganhar um título, mas que a humildade seja hegemônica e inerente ao ser atleticano.
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