Torcida única: segurança ou má vontade? - por Gabriel Aragão


Foto:Agência Minas

Torcida única em um clássico é declarar a falência do estado e tornar a sociedade refém de um bando de marginais. Existem aqueles que argumentam que um inocente, um filho seu pode eventualmente ser uma vítima desses marginais. Serei obrigado a discordar destes, pois, com todo respeito às famílias, e isso não justifica a violência, essas brigas, que podem acontecer na Silviano Brandão ou em Ibirité, raramente deixam vítimas inocentes. A gente acaba ficando com essa impressão porque dá mais ibope para a impressa colocar a vítima como mártir e os culpados como bandidos. Na grande maioria das vezes, quase todas em verdade, as vítimas são tão culpadas quanto os agressores, afinal esses bandidos que vão para guerra, armados até os dentes, estão sujeitos a matar ou a morrer, o que, repito, não justifica nenhuma morte. E quando digo marginais, antes que pensem, não estou estigmatizando as torcidas organizadas, nem, tampouco defendo sua extinção. Muito pelo contrário. Uma coisa não tem relação com a outra e as causas da violência no estádio é um debate muito mais profundo e que não cabe aqui.

Voltando ao assunto, não sei, caro leitor,  se vocês conhecem  La Bombonera, Maracanã, Engenhão, Vila Belmiro ou o Prudentão. Mas se nesses estádios têm clássicos, em qualquer outro pode ter. As ruas ao redor desses estádios são tão ou mais acanhadas às do Horto. Engenhão, inclusive, que tem acesso de trem, por uma linha, assim como o Independência. O problema é que estamos "mal acostumados", uma vez que, devido a Antônio Carlos e Catalão, dois grandes corredores de acesso paralelos que levam ao centro, o Mineirão é o estádio do Brasil, quiçá do mundo, com maior facilidade de acesso para duas torcidas.

É evidente que para se realizar o clássico com segurança na Arena Galo Doido nós torcedores temos que abrir mão de algumas facilidades e direitos e que a polícia vai ter que trabalhar bastante, mas isso acontece em todo lugar, na verdade toda forma de segurança, de forma ou outra, implica em uma redução de direitos. Usar ruas estreitas e dificuldade de acesso como desculpas, é preguiça de planejar. Como já disse, se vocês já foram ao Maraca e à La Bombonera sabem que as ruas lá são tão ou mais estreitas que às do Horto. Além disso, todos que frequentamos estádio sabemos que há tempos não uma briga no entorno do estádio. Os confrontos se espalham pelas periferias, à quilômetros das praças de jogos. Impedir duas torcidas de irem ao clássico significa pulverizar os conflitos e aumentar o trabalho da polícia ao redor da cidade.

Não sou nenhum especialista em segurança, mas, para provar que com um pouco de boa vontade e, claro, uma redução de direitos que é inerente a qualquer tipo de segurança dá para fazer. Segue minha sugestão:

1 - Mandantes ficam com o setor Pitangui e Minas e visitantes com o Ismênia
2 - Metrô somente para os mandantes
2 - Policiamento no metrô impedindo que torcedores com a camisa do visitante usem este meio de transporte
3 - Esquema de ônibus especial nos bairros com estações de metrô para os visitantes
4 - Mandantes chegando somente pela Pitangui e Cidade Nova e visitantes por Santa Tereza e Silviano brandão
5 - Isolamento policial das áreas: torcedores com camisas do mandante não podem passar pela Silviano Brandão e Ismênia Antunes e com camisas do visitante não podem passar pela Pitangui
6 - Fechamento dos becos
7 - Em caso de empate, os torcedores visitantes uniformizados ficam retidos no Estádio por uma hora
8 - Em caso de vitória, os torcedores uniformizados dos vencedores ficam retidos no estádio por uma hora

De novo, não sou especialista, não sei se esse seria o esquema ideal, mas se eu, leigo, consigo pensar em um esquema plausível, uma equipe preparada e paga para isso consegue certamente criar um esquema de segurança eficiente. O que o Estado faz ao tirar o direito do torcedor de ir ao estádio é declarar sua falência e sua incompetência, nos tornando reféns de uma minoria de marginais. É o mesmo que proibir os cidadãos de bem de sair à noite, pois não há como garantir que ele não seja sequestrado.

Bom, mas agora já está decidido e nos resta apoiar o Galo à distância.
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